À medida que envelhecemos, naturalmente, vamos acumulando mais passado do que futuro, é a lei, não adianta reclamar. Ao invés de negar ou fugir, que tal aproveitarmos as boas lembranças e curtir uma saudade que conforta e que faz bem? Relembrar é reviver, é viver com outro sabor, é aproveitar o saber, ressignificar, valorizar e acolher.
Cheiros da infância
Nasci numa cidade do interior gaúcho, pequena. A casa era simples, de madeira, mas com muito calor humano, fui muito feliz na minha infância e adolescência, não tive nenhum trauma. Os invernos eram rigorosos. Cresci com um fogão à lenha na cozinha, era o coração da casa. Aconchego, partilha, comunhão campeira, nativista. Tive uma mãe maravilhosa, em todos os sentidos: trabalhava fora, era concursada, muito inteligente e perspicaz, sociável. Ela era referência na vizinhança. Eu já acordava com o fogão aceso, casa quentinha. O cheiro do café passado e o perfume de minha mãe acompanharam meu crescimento. Viva as mulheres! Viva as mães gaúchas!
Professoras inspiradoras
A maioria das professoras que tive foram mulheres, eu era apaixonada por elas, platonicamente, é claro. Organizadas, simpáticas, pacienciosas, o que mais me encantava era a letra delas no quadro verde. Belíssimas, desenhadas com capricho. O mais importante era visível: elas gostavam de dar aulas, de ser professoras. Eu me esforçava para tirar boas notas, não queria decepcioná-las. Elas investiam e esperavam o melhor de mim, torciam por mim. Fez muita diferença na minha vida, eu admirava todas elas e, meio que sem querer, me tornei professor. Apesar do caos contemporâneo, sou muito feliz na minha profissão. Viva os/as Professores/as.
Horta e jardim
Nos anos 80, numa cidade do interior, em casa de madeira, há várias coisas para fazer, além de brincar, jogar e estudar. Duas atividades eram as minhas favoritas: cuidar da horta e do jardim de casa. Confesso que nunca tive muito jeito e paciência com a horta, mas eu compensava no jardim. Grama bem cortadinha, um desenho planejado das flores e arbustos, revezamento nas estações do ano, tudo era pensado anteriormente. Minha mãe gostava, a vizinhança também.
Michael Jackson e Madonna
Além de bons exemplos de mãe, familiares e amigos, de professoras incríveis, eu também gostava muito de acompanhar a vida dos artistas, especialmente de cantores na televisão.
Cresci com dois mestres/gênios da música: Michael Jackson e Madonna. À época eu não gostava muito das aulas de Educação Física (tecnicistas...) mas ficava fascinado com a dança e desenvoltura corporal deles. Era a época clássica dos discos de vinil e dos lançamentos de videoclipes no Fantástico. Me tornei professor de dança. Recordar é (re)viver. Saudades eu tenho das coisas simples que tocam o coração. O tempo que não volta se repete dentro da gente.